quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Tarde de Inverno

Uma escuridão surgiu na minha janela, uma escuridão surgiu na minha janela, uma escuridão surgiu na minha mente. De repente um pingo começara a cair do céu, estava caminhando rumo a caminhada que se desfalecia junto aos pingos de água que agora caíam. Uma parada, pois a incerteza era. A casa de Deus tornou-se minha casa naquele momento, foi um abrigo, porém ainda sim frágil contra todo o poder daquele dilúvio que se atrevia a retirar telhas do teto da casa do Senhor. Conformei, rezei, pedi, agradeci, já estava ali. Foi tudo uma curta viagem ao interior, dessas que você vai para se encontrar com seus avós, na morada barroca; dessas que você vai, e se perde na complexidade do seu eu. Sentia o cheiro de mato molhado e da chuva que o molhava, sentia a pele macia e boa de sentir, a pele do aconchego. E as sensações aconteciam como na infância, com aquela inocência de uma criança. E a propósito, as crianças eram as que mais aproveitavam aquela água virgem que escorregava pelo petróleo libertino. Eram miúdos legítimos.

E eu ia caminhando, caminhava, me encontrava, a inspiração veio com um toque de amor demais, como naquelas belas canções.

O mundo virou de ponta cabeça. Agitou-se. Os pingos começaram a ficar escassos, não tinham mais aquela significância nem aquele significado. O caos se esparramou e agrediu a todos que estavam por perto. Os automóveis passavam pelo cruzamento sem se lembrar das drásticas conseqüências. O divorcio com a vida não tinha a menor importância para ninguém. Todos estavam ali, a procura do seu prazer imediato, dos seus objetivos particulares. Hedonismo. Porém de repente um barulho estrondoso parou, parou a todos, mas não por interesse pelo outro, e sim por um susto individual de cada indivíduo que estava por perto. Era um guri, que sentia seus últimos suspiros no centro do cruzamento, tinha sido pego por um carro que não se incomodava com que estava a sua volta. Todos empacaram, deram uma pequena olhada, e em poucos segundos o trânsito retomou a sua normalidade. E o garoto insignificante continuava no centro do cruzamento se contorcendo e esperando não mais esperar. Foi quando uma escuridão surgiu na minha janela, uma escuridão surgiu na minha janela, uma escuridão surgiu na minha mente. De repente um pingo começara a cair do céu, e o menino foi se desmanchando junto às lembranças de sua morte precoce. E os automóveis continuavam a transitar sem se preocupar...

2 comentários:

  1. Surpresa boa, meu caro.
    Se sugestão não for muita pretensão, aí vai : e se essa "tarde de inverno" fosse a ultima?

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  2. Meu caro amigo...
    Xipanzé do mato.
    É sempre bom ler suas introspecções.
    Conversas de curtos intervalos e intertextualidade. Você me entende...
    Certas coisas não precisam ser ditas.
    Beliko

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